O ponto final do amor

Despedir-se da própria história de amor não é tarefa das mais fáceis. A construção do fim costuma se dividir entre duas forças principais. Quando a razão alerta para um possível “quebrar a cara” e o coração quer mais uma chance de provar por A + B que todos os argumentos pró-término são releváveis, inicia-se o conflito.

Ele não tem estabilidade, mal sabe onde vai morar nos próximos meses. Ela está confusa, acabou de romper um relacionamento de sete anos. Ele vive atormentado pela ex-mulher. Ela foi aprovada para um cargo em uma multinacional asiática e está ajustando os últimos detalhes da mudança.

Sempre há problemas. Quem não os tem? Nem mesmo os personagens de ficção escapam – as dificuldades estão ali, inclusive como forma de tornar o roteiro mais interessante. Sim. Quando nada foge à normalidade, não tem graça. Na arte, não fideliza o público. Na vida real, não é notícia. A vida não acontece.

Boa parte dos problemas num relacionamento pode ser amenizada se encararmos o outro como alguém falível e suscetível a adversidades. Como nós mesmos. O ponto-chave da decisão sobre ir ou ficar está nos objetivos de cada um na história. Existe a certeza de querer caminhar de mãos dadas, mesmo diante da tempestade perfeita?

A certeza, claro, pode tropeçar em alguma ventania irreparável e deixar abertas apenas as memórias dos dias quentes, sem o menor sinal de crise. Sobram aí também sentimentos sobrepostos: saudade, amor, mágoa, raiva, tristeza. Mas, à medida que o tempo passa, vai rabiscando o desenho do que aquela história representou, com tudo de bom e de ruim, erros, acertos, dúvidas e certezas.

Visto de longe, o fim pode ser belo. Como uma obra de arte criada a dois. Depois de pronta, cada um escolhe a moldura e onde expor.